segunda-feira, 6 de julho de 2009

Costa Nova


SAUDADES DA PRAIA (COSTA NOVA)
Costa Nova, linda praia

Onde o mar sabe cantar...

Que lindas canções ensaia

Quando o Sol a vem beijar...
Oh Costa Nova do Prado

Como é belo o teu luar...

Anda sempre enamorado

Pela ria e pelo mar...
Voz do mar, rumor perdido

Dum amor que já passou...

Dum amor desiludido

Que nem saudades deixou.
Voz do mar, voz da saudade

Voz de terror, tanta vez...

Nela vive a ansiedade

Da alma do português
Em Setembro há romaria,

Hei-de comprar uma flor;

Hei-de cantar noite e dia

À porta do meu amor.
E, quando a festa findar,

E voltarmos p'ra cidade,

Havemos, ambos, rezar

Um rosário de saudade.

ílhavo


Íhavo, heróico poema,

Escrito em sangue no mar!

Tua canção é um tema

Que todos sabem cantar.

Terra de heróis marinheiros,

De heroísmo sem igual!

Sempre honrando em seus veleiros

O nome de Portugal.

Marinhas,

Sol, tricaninhas

Azenhas sempre a chorar

Os sinos das capelinhas

Chamam o povo a rezar.

Ria sonhadora e esquiva

Que o mar não sabe entender

É ele quem lhe dá vida

No mar ela vai morrer.

Morre o Sol lá no poente

Num adeus emocionante

Diz adeus chorando à gente

Beijando o mar soluçante.

Ílhavo meu lindo amor

Noiva linda dos poentes

Brilhas e não tens fulgor

Não tens coração e sentes.

Moliceiros aprumados

Lembram gaivotas voando

São barcos estilizados

Ninfas esbeltas sonhando.

Céu azul noites serenas

Ao longe bramindo o mar

Canais planuras amenas

Velas ao longe a acenar.


sexta-feira, 3 de julho de 2009

Solidão

Todas as madrugadas desce uma nuvem sobre o meu peito, todas as noites o basalto frio recolhe-me nos ossos onde alojo a alma, esta, que te clama, que te pranta e se não cala. Do mar sobem gritos de silêncionas águas retalhadas de um quase nada. No fio da navalha e na amurada, espumas rudes enfeitam sonhos perdidos em lágrimas de ternura. Todas as noites, no quase noite dos meus dias, morro por dentro, afogado nas lágrimas do meu canto.


















Solto-me
dos sítios costumeiros onde as vagas insistem em naufragar.
tomo o rumo das marés bravas onde sei, existem, raízes que me segregam
e outras
que me impelem forças verdes no verde que a natureza
transbordou em meu olhar.

enverdecido
olho-te de frente.
profunda. profundamente, no fundo mais rotundo,
mais escavado - lume ou gume de fogo e d’ água,
que nós, comuns mortais, possamos sequer imaginar.

e vejo-te.
vislumbro a beleza dos
corais onde habitam fragmentos do que fui, fundeada
ao lodo de mil pés ...

e barcos
e braços …

soçobrados de viagens perdidas …

volto aqui. transporto-te em mãos que escondo
por dentro do teu próprio corpo. és sal e mar.
e dor e brilho ...
como um erário, guardo-te. velo-te.
secreta, respiro-te em guelras…

[sempre te disse que o mar é o meu lugar. …]

gostava de poder dar um nome…
mas, de tanto trilhar a praia, de lés-a-lés,
apenas me recordo que o teu nome estava escrito em tábuas de marés …

Na noite



















Acolho-me da noite ressaibada onde dormi nu, casta, virgem e basta, em bonomia, sob as tuas asas amplas de morcego. Na madrugada do desassossego abrigo-me hoje de um tempo em que as escamas se elevavam perfiladas de um mar arrepiado em que, de um lado a vaga, do outro o ventoe esta dore o desalento e as lágrimas, perdidas, roliças, gordas, profundas, iguais ao mar, iguais a si… escorridas nos olhos invisíveis dos meus dedos plácidos ...Deste tempo em que o verde bolinado dos meus olhos fulgurou feérico na noite dos teus olhos, que logo assustados partiram, dúbios mareantes, na incerteza e na vontade de ficar, na tristeza dissimulada de zarpar. Acolho-me da noite no ressaibo de um balanço de berço, numa rola de barco, das tuas asas de morcego em pranto.(E do meu pranto,de te saber mar-chão, em sofrimento...) De um tempo em que foste mar de calma e as gaivotas se explodiram coralinas no remanso das branquelas das água e tudo era sonho, e tudo não mais que utopia e ilusão. Daqui, da proa do meu barco, eras o tempo de um tempo que se navegava aproado, ao meu tempo colado.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Marinhas de Sal













Marinhas do Sal

Eu fico absorto,

Passo horas fitando

E sinto conforto

De tal ‘star olhando!

Ao lançar o olhar

P’las Salinas belas,

Julgamos fitar

Pinturas em telas!

É cristal purinho

Que os olhos ‘stão vendo,

O Sal tão branquinho

De água nascendo!

Tudo é deslumbrante

Fazendo lembrar,

Um lençol gigante

Na ria a corar!

Encerras beleza

Marinha do Sal!...

És bem Portuguesa

És nossa afinal!...

E os montes tamanhos

Do Sal resplendente,

Lembram algo estranho

Do vélho Oriente!

Montes de pureza

Pontos de cristal,

Olhai a beleza

Dos montes de Sal!...

Olhai essa Ria

Que é filha do mar!

E vêde a magia,

Do Sal a brilhar!

Primôr verdadeiro,

Encanto sem par,

Que a Ria de Aveiro

Têm para mostrar!
Beleza ela encerra

Sem mais ter rival,

Orgulho da Terra

E de Portugal!...

Tu













Pela ponte de espuma
Chegaste.
Ignoro o além da praia,
O mundo que te gerou;
Se surgiste do seio do dia
Ou do grito da noite.
Reconheço-me apenas
No coral das unhas e da boca,
Nos olhos líquidos,
Na trança de sargaço.
Sei que flutuas em mim,
E teu corpo veste-se
De vozes;
No entanto,
Regressarás ao mundo de areias brancas
E meu murmúrio será sal,
Brilhando em teus cabelos.